A reportagem do dia 2 de Fevereiro de 2008
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Dessa ruralidade de outrora, a criação e a matança do porco eram um dos pilares fundamentais da economia familiar dos vermoenses. Do porco quase tudo se aproveitava e das suas carnes foram-se refinando na tradição culinária local verdadeiras iguarias. É essa tradição ligada ao porco que se pretende reviver no ‘Há Porco no Parque’, que tem sido igualmente pretexto para reencontro de amigos e reforço dos laços comunitários”.
(...)”
- In Programa do 3º Festival Gastronómico de Vermoim
Este 3º Festival de Gastronomia foi pretexto para visitar a tenda onde centenas de pessoas visitavam os 11 stands que poseram à disposição dos visitantes os mais variados petiscos... e como estes cheiravam bem e abriam o apetite!!!
Os sons do Grupo de Concertinas de Viana do Castelo eram ouvidas, em surdina, dentro do Salão Nobre da Junta de Freguesia de Vermoim. E fiquei triste porque, desta vez, tanto os “Sons do Vento” como o “Quarteto da Filarmonia de Vermoim”, por motivos de força maior, não puderam estar presentes. Foi pena... mas mesmo assim esta foi uma Noite diferente e que muito agradou a todos os presentes.
Pouco passava das 21,30 horas quando Maria Mamede abriu a Noite de Poesia, seguindo-se a intervenção dos poetas Adérito Morais, Manuela Carneiro, Armindo Cardoso, Margusta (“Poesia na Net” pela voz de Maria Mamede), Inocêncio Vidal, Elisabete Carvalho, Jaime Gonçalves, Rosa Teixeira Bastos, Paula Raposo (“Poesia na Net” pela voz de José Gomes), Manuela Miguéns, João Diogo (“Poesia na Net” pela voz de José Gomes), Helena Maltez (“Poesia na Net” pela voz de José Gomes), Maria Fátima Fernandes (“Poesia na Net” pela voz de Maria Mamede), Albino Santos, Teresa Gonçalves (“Poesia na Net” pela voz de Maria Mamede), Maria Mamede e José Gomes.
Escolhi, desta primeira parte (foi mesmo difícil esta escolha!) estes dois poemas. Um da Maria de Fátima Fernandes e outro da Helena Maltez, ditos, respectivamente, pela Maria Mamede e por José Gomes:
Dias
Tecemos nas horas dos dias
momentos inteiros.
Tecemos o vento, a brisa,
o mar a contento;
o canto do pássaro,
a voz que caminha
leve, nas rugas dos dias -
que não sinto… não sentes…-
e segue sozinha.
Tecemos estradas
nos alinhavos da vida;
luares, montanhas
por nós omitidas;
a lavra, a seara,
o espigueiro vazio;
a fome que nos passa
na quentura do frio;
a casa, a ponte,
o jardim florido no eixo do rio;
no espaço, o instante
do sol que se colhe;
na água, a magia
dos olhos sem norte
pela porta esquecida.
E assim vamos loucos e soltos
de tudo em olvido
pintando sorrisos
nas horas sem dias
Mª Fátima Fernandes (Amita)
Dias
Dias de espera
nas tardes frias.
Transportam o passaporte
dum tempo indiferente.
Ignoram a sede
que humedece um corpo
e, caminham ébrios
nos corredores da memória.
Dias soltos
em outras paisagens.
Gritos de gente,
num segredo cúmplice
aromas de glicínias
na penumbra do silêncio sólido,
horas gigantes e mal contadas
nas palavras pululantes.
Dias sem rosto,
roubados ao lixo fingido,
ao ardor dum tempo restrito
diferentes de um passado mudo.
Dias longos, na viagem do corpo
num sorriso que ainda dura!
Helena Maltez
No tema “Livre” intervieram Adérito Morais, António Castilho Dias, Armindo Cardoso, Rosa Teixeira Bastos, Inocêncio Vidal, Jaime Gonçalves, Maria Mamede, José Gomes, e Albino Santos.
Desta segunda parte (os intervenientes esqueceram-se de me entregar os seus poemas!!!!) escolhi este poema de Maria Mamede:
DIAS
Gosto muito, mesmo muito
da sopa com olhinhos de azeite
boiando por cima das couves
e de todos os mais ingrediente;
dessa sopa a cheirar
a cozinha e horta da Avó
tempo de infância, na Casa do Castelo
do Conde Romualdo...
gosto da sopa
com broa de milho a acompanhar
sopa assim simples
de gente pobre do campo
cuja riqueza
era por vezes
acrescertar-lhe a “tora”
ou seja
toucinho, presunto (muito raramente)
ou chouriço
daquele de carne
parecido com o salpicão
que a Avó e a Mãe
faziam com desvelo...
sei que envelhecer
faz aumentar as memórias;
talvez por isso
em dias, como hoje
ao fazer a sopa
recordo que continuo a gostar
muito
dos olhinhos de azeite
a boiar por cima das couves
e de todos os outros ingredientes
e do sabor da “tora”
e embrulhada no xaile da
saudade
regresso à infância!...
Maria Mamede
(Poema declamado pela autora, na segunda parte desta Sessão).
Mário Jorge manifestou o seu agrado por esta Noite de Poesia, talvez devido à diversidade com que o tema foi tratado pelos diversos poetas. Anunciou, ainda, a apresentação do livro “Portugal em Capítulos”, de Susana Santos. Vide o convite abaixo:
O tema proposto para a próxima Noites de Poesia em Vermoim (dia 1 de Março, pelas 21,30 horas) é “EMOÇÕES”. Mais um desafio à vossa imaginação!
José Gomes
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